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Gestão de empresas familiares: uma magia difícil de replicar
Acerca de
Alexandre Dias da Cunha

Alexandre Dias da Cunha

Assistant Professor, Management and Organizations, Nova SBE

Opinião

Gestão de empresas familiares: uma magia difícil de replicar

Publicado em 05 de Março de 2025 em 13:29

Quando me apresento como especialista em gestão de empresas familiares, deparo-me por vezes com comentários que apontam a falta de profissionalismo e os descendentes impreparados, ou exemplos, mais ou menos recentes, de grupos económicos de cariz familiar que implodiram.

Não vou negar que a combinação de família e negócios resulta numa mistura potente. Mas aquilo que acontece com essa mistura está nas mãos de cada família empresária. Costumo fazer a comparação com a Força do universo Star Wars, que também tem o lado negro (pense Darth Vader) e o lado da luz (os cavaleiros Jedi).

Ao contrário dos detractores, prefiro olhar para as vantagens competitivas de que as empresas familiares podem dispor, precisamente por serem familiares. A essa fonte de vantagens competitivas, que são valiosas, raras e inimitáveis, dá-se o nome de familiness[1].

Como nutrir o familiness? Quer o leitor seja membro da família quer não, se for gestor de uma empresa familiar não ficará mal-aconselhado ao levar em conta estas recomendações:

  1. A estrutura é sua amiga: levar a família a organizar-se de maneira mais formal, com órgãos e processos de governance, pode parecer um pouco estranho no início. Leva sempre um ano ou dois até que a família se habitue a interagir dessa forma. Mas o valor da governance torna-se evidente quando vemos como as famílias acabam por beneficiar dessas estruturas e desses processos. Discutir assuntos sensíveis e lidar com emocionalidades complexas torna-se mais fácil e produtivo.
  2. Profissionalizar não significa tirar a família do negócio: as empresas familiares mais bem-sucedidas são as que combinam na sua gestão uma combinação entre membros da família e gestores não-familiares. Uns e outros têm de ser, antes de mais, profissionais competentes. Em cima disso, os não-familiares podem trazer competências em áreas que a família não domina internamente e são muitas vezes um benchmark e um catalisador para determinadas práticas de gestão (por exemplo processos de avaliação de desempenho). Os familiares podem acrescentar valências formidáveis, por exemplo um “amor à camisola” e uma flexibilidade inigualáveis, para além de serem transmissores dos valores da família para dentro (e fora) da organização.
  3. Processos justos são mais importantes do que resultados justos: nas empresas familiares a justiça é crucial ou, se preferir, a percepção de injustiça pode ser corrosiva e ditar o insucesso da organização. O antídoto passa por investir nos processos e na justiça processual. As pessoas vivem melhor com resultados que lhes são menos favoráveis quando sentem que o processo que levou a uma determinada decisão teve os ingredientes certos que o tornaram justo.
  4. Vale a pena investir tempo e dinheiro na família: qualquer gestor entende a necessidade de investir no negócio, de alocar recursos no presente para colher rendimento no futuro e assim criar valor. O que já não é tão óbvio mas continua a fazer todo o sentido é aplicar o conceito do investimento à família empresária – os membros da família, quer sejam gestores do negócio familiar, quer sejam “simples” accionistas ou futuros accionistas, serão tanto mais valiosos para a empresa familiar quanto forem educados e desenvolvidos e os seus talentos acarinhados.

A familiness está ao alcance de qualquer família empresária, mas de facto nem todas elas são capazes de aproveitar o potencial. Seja uma família Skywalker, use o lado bom da Força!


[1] Habbershon, T. G., & Williams, M. L. (1999). A resource‐based framework for assessing the strategic advantages of family firms. Family business review, 12(1), 1-25.


Para mais informações consulte o programa Nova SBE Voice Leadership Initiative.