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João e os mitos da inovação
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Rui Coutinho

Rui Coutinho

Executive Director for the Future, Nova SBE

Opinião

João e os mitos da inovação

Publicado em 09 de Abril de 2025 em 19:54

Conheci o João há alguns anos, quando ele procurava candidatar-se a financiamento “a fundo perdido” que pudesse “ajudar a pagar” a nova máquina CNC de que precisava. Dizia ele que tinha de justificar a inovação que a máquina iria permitir criar.

O João é dono e gerente de uma pequena empresa do setor do mobiliário e sempre acreditou que inovação era coisa de grandes empresas: “Isso não é para mim; eu tenho é de conseguir encomendas que me ajudem a pagar os salários e as dívidas.”
Ao longo destes anos, temos conversado com muita regularidade e, por uma razão ou outra, acabamos sempre por ir parar à inovação. E acabamos sempre a discutir muitos dos seus mitos mais clássicos.

“Inovação significa correr grandes riscos”

Falei ao João da Petratex, de Paços de Ferreira, e da forma como se tornou num dos maiores players mundiais na área do têxtil e vestuário. Ele ficou intrigado: “Como uma pequena empresa têxtil conseguiu desafiar gigantes globais? Como foi possível arriscar tanto?”
A verdade é que a Petratex percebeu que arriscado seria, isso sim, não inovar. Por isso, encarou a inovação como uma espécie de apólice de seguro contra a perda de competitividade e não como um salto no escuro. Os célebres fatos de natação do Michael Phelps, os têxteis técnicos, a sua aplicação na moda de luxo e nos produtos de alta performance, as patentes que acabou por registar: tudo isto resultou da ideia de que inovamos para gerir e mitigar o risco de perdermos competitividade. O João percebeu então que inovar não significa correr riscos desnecessários, mas sim criar novas oportunidades com inteligência e estratégia.

“Inovação exige muitos recursos”

Mas o João ainda tinha dúvidas: “Inovar exige muito dinheiro, não?” Foi então que lhe contei a história da Oli. Esta PME especializou-se em sistemas de descarga para casas de banho e, sem orçamentos milionários, conseguiu desenvolver soluções inovadoras que economizam água e aumentam a eficiência. Com pequenas melhorias, com uma aposta em design e em tecnologia e um olhar atento para a sustentabilidade, a Oli não precisou de investimentos colossais para se destacar. Ter recursos ajuda, mas a inovação não exige grandes orçamentos ou equipas especializadas. O João percebeu que inovação não é sobre gastar mais, mas sim sobre usar melhor os recursos.

“Para inovarmos precisamos de ideias novas e originais”

O João sempre achou que inovar significava ter uma ideia revolucionária. E ele nunca a teve: “Eu faço móveis, como é que é possível revolucionar o que quer que seja?”Ao falar-lhe da Renova, percebeu que a inovação podia estar no detalhe. Quem diria que um rolo de papel higiénico preto poderia transformar um produto banal num objeto de desejo? A Renova provou que a inovação muitas vezes reside em olhar para o comum com novos olhos. O João entendeu que não precisava de reinventar a roda e que inovação também é encontrar melhores formas de fazermos o que sempre fizemos, ou formas mais criativas de diferenciar o que já fazemos.

“Mas a inovação é sinónimo de tecnologia”

Outra crença que sempre acompanhou o João foi a correlação entre inovação e tecnologia. Aliás, foi assim que nos conhecemos. “Não sou engenheiro, como posso inovar? Comprando tecnologia, certo?” Disse-lhe que, naturalmente, a tecnologia é importante e relevante. Mas que não é, de todo, a única forma de inovarmos. E falei-lhe da Barkyn. Criando um modelo de subscrição para alimentação animal personalizada, a empresa inovou sem precisar da “última versão da máquina” e sem precisar de um suporte tecnológico altamente complexo. Inovou no seu modelo de negócio e isso fez toda a diferença na sua competitividade. O João percebeu que inovação não era sinónimo de tecnologia, mas sim de novas formas de entregar valor aos clientes.

“A inovação é um custo e um luxo”

Percebi que o que mais assustava o João era o custo da inovação: “Isso é muito caro”. Mas quando conheceu a Plásticos Futura, mudou de perspetiva. Para acompanhar as crescentes exigências ambientais e regulatórias do mercado, a empresa compreendeu que precisava de investir estrategicamente em novas formas de servir os seus clientes: aprendeu a transformar resíduos em produtos de alta qualidade, a reduzir desperdícios, a desenvolver soluções diferenciadas e, com isso, conquistou clientes preocupados com a sustentabilidade. Quando lhe falei da Plásticos Futura, o João percebeu que inovar não era um luxo, mas uma necessidade para garantir a sobrevivência da sua empresa no futuro.

O despertar para a inovação

A verdade é que agora o João vê a inovação de forma diferente. Não como algo inatingível, mas como um hábito diário que envolve todos os seus colaboradores.

Há uns dias encontrei-o em Carcavelos, no campus da Nova SBE; contou-me que começou a incentivar a sua equipa a partilhar ideias, começou a explorar novas formas de otimizar processos e começou a prestar mais atenção às tendências do setor.
Contou-me ainda que estava ali porque tinha sido selecionado para participar nos programas de formação e mentoria do Voice Leadership Initiative. E que percebia a importância de melhorar as suas competências de gestão para poder garantir o seu crescimento futuro.
Percebi que o João tinha finalmente despertado para a inovação.

“Rui, a próxima história que vais contar vai ser a da minha empresa! Garanto-te!”


Para mais informações consulte o programa Nova SBE Voice Leadership Initiative.